quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Guerra das facções atravessa a periferia e chega às áreas nobres do Ceará


As prisões de chefes de tráfico em Fortaleza e São Paulo afetam diretamente a cadeia de comando das facções, provocando rearranjo na disputa que travam dentro e fora do Estado.

Curioso que tenham ocorrido num intervalo de menos de 24 horas. Na segunda-feira, no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), um membro da organização paulista PCC, cujos negócios incluíam empresas no Ceará, foi preso ao desembarcar de voo oriundo da capital cearense.

Claudiney Rodrigues de Souza, 36 anos, havia se estabelecido financeiramente, irrigando investimentos legais com dinheiro resultado do comércio de drogas.

Nesse tempo, frequentou o high society alencarino, sendo figura fácil nas festas e rodas badaladas.

De facção mais modesta, com poder aquisitivo menor e raio de ação restrito ao Estado, Deijair de Sousa Silva, 29, foi preso ontem acusado de ser o mandante da chacina das Cajazeiras, que completa um mês no próximo dia 27.

Conhecido como “De Deus”, Deijair morava num condomínio de classe média alta no bairro Cocó. De lá, no coração da grã-finagem da cidade, “De Deus” comandava o tráfico de drogas e expedia suas ordens de matança.

Do Cocó para o condomínio de luxo Alphaville, em Aquiraz e Eusébio, não é exatamente uma carreira, mas era lá onde vivia Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, ambos chefes do PCC no País. Ali, a dupla de traficantes mantinha rotina nababesca, com pelo menos quatro carros importados na garagem (os veículos somam quase R$ 2 milhões) e passeios em parque aquático e praias no litoral cearense, deslocando-se em helicóptero próprio.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, Paca já estivera no Ceará no ano anterior, quando visitara Canoa Quebrada com a família. Os corpos de Gegê e seu comparsa foram encontrados em reserva indígena em Aquiraz na última sexta-feira, 16. Junto a eles, havia um colar de ouro no valor de R$ 400 mil e um relógio de R$ 40 mil.

Essas baixas na cúpula das facções, se não desmantelam o funcionamento e a hierarquia das organizações criminosas, evidenciam o papel do Ceará como um misto de entreposto comercial para o escoamento de entorpecentes e colônia de férias para o banditismo.

Cadeia de negócios cada vez mais capilarizada e diversa, o tráfico atravessou a periferia e chegou à área nobre, consumando aí um salto aspiracional. Ainda sem CNPJ, as facções se comportam como empresas e seus chefes, líderes de “startup” que mobilizam recursos vultosos, empregando mão de obra barata - um exército de adolescentes pobres.

Não à toa, as notícias de que Gegê, De Deus e Cláudio “Boy” partilhavam o metro quadrado mais caro do Ceará e frequentavam colunas sociais causaram ainda mais espanto do que os inúmeros assassinatos que lhes são atribuídos.

Pela força do dinheiro, eles ingressaram num mundo ao qual não pertenciam por origem, como se tomassem de assalto a cidade dos ricos. E nenhuma vigilância eletrônica parece suficiente agora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Prefeitura de Tauá